Hepatite C e seus aspectos clínicos

José Carlos Ferraz da Fonseca

Médico especialista em Doenças do Fígado (Hepatologia)

Do ponto de vista clínico, como se comportaria um indivíduo que adquire o vírus da hepatite C (VHC)? Do provável contato com o VHC e o aparecimento dos primeiros sinais e sintomas (período de incubação) da doença, este período pode variar de seis a doze semanas. A infecção pelo VHC cursa, na maioria das vezes, sem qualquer tipo de sinais ou sintomas durante um período de tempo, que pode variar entre 10 e 40 anos. Um percentual muito grande de pacientes que desenvolvem hepatite aguda C é assintomático (sem queixas) ou apresenta doença discreta (mínimo de queixas). Na minha experiência, só tive oportunidade de ver oito casos de hepatite aguda pelo VHC.

Quando o quadro agudo de hepatite C se manifesta, os sinais e sintomas são semelhantes aos das outras hepatites. As queixas mais freqüentes dos pacientes são: olhos amarelos (icterícia), fadiga e falta de apetite. Sabe-se que a icterícia pode permanecer por poucos dias ou até vários meses. Quando se examina um paciente, geralmente verifica-se um aumento do fígado e do baço. Um outro dado interessante sobre a hepatite aguda C é que as taxas das aminotransferases (enzimas produzidas no fígado que aumentam quando o mesmo é agredido) são menos evidentes que as taxas verificadas nas hepatites agudas virais A, B, D, E ou medicamentosa.

Um paciente com hepatite aguda C só poderá ser considerado “curado” quando pudermos comprovar a normalidade das aminotransferases por mais de 3 a 4 anos. Devemos lembrar que somente 15% dos indivíduos conseguem eliminar o VHC após a hepatite aguda. O maior problema dos pacientes que desenvolvem hepatite aguda assintomática ou sintomática é que 60 a 90% vão evoluir para a cronicidade, inclusive cirrose hepática e câncer primário de fígado em torno de 20 a 30 anos.

Entre os pacientes que desenvolvem hepatite crônica C, a fadiga constante é o sintoma mais comum e o seu início é insidioso e leve. Outros pacientes se queixam de uma sensação de peso no lado direito do abdome, bem debaixo das costelas. De cada dez pacientes, sete apresentam aumento do fígado e três aumento do baço. Um outro dado interessante sobre a hepatite crônica C é que ela pode cursar, em 30% dos casos, com as aminotransferases normais (sem agressão ao fígado) e mesmo assim o paciente pode desenvolver uma cirrose hepática ou câncer primário de fígado. O diagnóstico de uma hepatite crônica C passaria pela realização de uma biópsia no fígado.

A infecção crônica pelo VHC tem sido associada a manifestações fora do fígado e as principais seriam: vitiligo, diabetes mellitus (mais freqüente no sexo masculino e maiores que 40 anos de idade), coceira (prurido), doenças renais, porfíria cutânea tarda, doenças cancerígenas (linfomas), fibromialgia, crioglobulinemia, doenças da tireóide (mais freqüente no sexo feminino), doenças dermatológicas (líquen plano), depressão (mais comum no sexo feminino), úlcera de córnea, dores nas articulações. Recomenda-se, em todo paciente com sintomas reumáticos de causa desconhecida, a pesquisa do VHC no sangue. Grande parte destas manifestações melhoram quando tratamos os pacientes com as drogas disponíveis no arsenal terapêutico contra o VHC. Todavia, outras exacerbam e se tornam mais graves ou descompensam durante o tratamento, como as doenças da tireóide, diabetes mellitus, líquen plano e psoríases.

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