Esteato-hepatite: uma doença nova e preocupante

José Carlos Ferraz da Fonseca

Médico especialista em Doenças do Fígado (Hepatologia)


No final da década de 70, a esteato-hepatite não alcoólica(sem história de abuso de álcool) teria como fatores comuns, ou seja, como causa ou causas primárias do problema, a síndrome metabólica (resistência à insulina), obesidade, a dislipidemia (altas taxas de gordura no sangue), diabetes mellitus (tipo II), a perda rápida de peso, e o processo de desnutrição severa; como causas secundárias, a cirurgia (bypass jejuno-ileal) para emagrecimento (tratamento de obesidade mórbida), exposição crônica a produtos químicos, e o uso de drogas como o corticóide, estrógeno sintético e outras drogas tóxicas para o fígado, como, por exemplo, a Sacaca, planta utilizada freqüentemente pelos amazonenses e paraenses, que pode ocasionar esteato-hepatite, como também morte por hepatite fulminante (fígado deixando de funcionar). Estudos recentes, revelam que a esteato-hepatite não alcoólica acometeria também indivíduos não pertencentes a qualquer fator de risco. Estima-se que 3% da população mundial sejam portadoras dessa doença, ou seja, aproximadamente 180 milhões de pessoas.

Do ponto de vista clínico, a esteato-hepatite é dividida em alcoólica e não alcoólica. Neste artigo, descreveremos apenas a esteato-hepatite não alcoólica.O que nos faz escrever este artigo sobre hepatite crônica gordurosa não alcoólica? Se tal doença não for diagnosticada em tempo, tratada ou controlada, 8 a 26 % dos pacientes portadores desta doença irão evoluir para cirrose hepática. E, então, o que fazer? Em primeiro lugar, reconhecer em você algum fator de risco para desenvolver hepatite crônica gordurosa não alcoólica. Entre os portadores desta nova doença, mais de 70% são obesos, mais de 75% são diabéticos e 20 a 80% dos pacientes tem dislipidemia (aumento dos lipídios, colesterol total, triglicérides). Em segundo lugar, todo mundo que é obeso, que tem altas taxas de gordura no sangue e é diabético vai desenvolver a doença? A princípio, não, pois vários estudos sugerem que o desenvolvimento desta doença estaria relacionado a problemas genéticos. Como não sabemos se você geneticamente estaria livre de tal doença, o melhor mesmo é saber mais alguma coisa sobre a doença, como diagnosticá-la, como preveni-la, e, se possível, como tratá-la ou controlá-la.

O sexo feminino é o mais comprometido (60 a 80%) e mulheres diabéticas tipo II com idade superior há 50 anos teriam um maior risco de desenvolver tal doença. A esteato-hepatite não alcoólica, na maioria dos casos, é assintomática, ou seja, uma grande parte dos pacientes não sente qualquer problema. Por outro lado, alguns pacientes queixam-se de um leve desconforto (sensação de peso) no lado direito do abdome, geralmente abaixo das costelas.

Como já se descreveu, grande parte dos pacientes com esteato-hepatite não alcoólica não apresenta qualquer sintoma da doença. Geralmente a doença é diagnosticada quando o paciente realiza exame clínico e laboratorial de rotina. No exame clínico, 70 a 90% dos pacientes apresentam fígado crescido (hepatomegalia), sendo este considerado o dado clínico mais freqüente. Nos exames laboratoriais (sangue), todos os pacientes apresentam provas de função hepática elevadas (aminotransferases). Uma grande parte dos indivíduos apresenta dislipidemia (aumento das taxas de gordura no sangue), principalmente em decorrência do aumento do colesterol total, lipídios e dos triglicérides.

Como o diagnóstico da esteato-hepatite não alcoólica só é confirmado após a exclusão de outras causas determinantes, é necessário a realização de vários exames laboratoriais. O exame ultrasonográfico apenas informa o grau de acumulação de gordura no fígado e em hipótese nenhuma serve de parâmetro para o diagnóstico de hepatite crônica gordurosa não alcoólica. O diagnóstico correto para a confirmação da doença estaria fundamentado na realização de uma biópsia do fígado, servindo inclusive para saber o estágio (fase) da doença.

Não existe, até o presente momento, medicação capaz de curar a esteato-hepatite não alcoólica. O uso experimental de várias drogas não demonstrou resultados conclusivos. Por outro lado, a melhora do quadro clínico (redução do tamanho do fígado) e laboratorial (normalização das aminotransferases) da esteato-hepatite estaria baseada no controle da obesidade mediante a redução do peso, o controle do diabetes e finalmente o controle das taxas de gordura no sangue.

Este artigo foi escrito com a finalidade de alertar uma parte da população que pertence a determinados grupos de risco para desenvolverem esta nova doença, a procurar orientação médica. Seu médico é a pessoa mais indicada para orientá-lo, pois seria importante que o mesmo avaliasse sua situação e tomasse a conduta mais correta sobre o seu problema.

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